Uma das perguntas mais comuns que os estabelecimentos nos fazem no processo de compra de um produto é:
– No débito ou no crédito?
E a resposta é tão automática, que muitos não se dão conta do privilégio de, ao terminar uma refeição, escolher um presente ou até mesmo após tomar um café com um amigo, ter a possibilidade de tirar um cartão de crédito ou débito para pagar o estabelecimento. Aqui, não estamos falando sobre ter, ou não, saldo ou limite para efetuar o pagamento e, sim, sobre ter o cartão: o meio para pagar.
A dificuldade de acesso aos serviços financeiros é uma realidade mostrada no relatório “Measuring Financial Inclusion and the Fintech Revolution”, de 2017. Segundo esse relatório, cerca de 1,7 bilhões de adultos não estão inseridos no sistema financeiro, pois não possuem conta em quaisquer provedores desses serviços.
Conforme o relatório, a exclusão financeira tem como causa para cerca de 66% dos pesquisados, a pouca quantidade de recursos que justificariam ter essa conta criada. A impossibilidade de acesso aos canais de relacionamentos das instituições e o alto custo de manutenção dessas contas correspondem a 25% dos respondentes. Já a falta de documentação e a desconfiança no sistema financeiro foram citadas por cerca de 20% dos entrevistados.
O que mais impressiona nessa pesquisa é a constatação de que os serviços de dinheiro móvel, que permitem armazenar e transferir fundos por meio de um telefone celular, podem ajudar a melhorar o potencial de renda das pessoas e, assim, reduzir a pobreza.
Um estudo no Quênia descobriu que o acesso a serviços de dinheiro móvel trouxe grandes benefícios, especialmente para as mulheres. Garantiu que as famílias chefiadas por “elas” aumentassem suas economias em mais de 20%, permitindo que 185.000 agricultoras deixassem o trabalho no campo e desenvolvessem atividades comerciais ou de varejo, ajudando a reduzir a pobreza extrema entre essas famílias em 22%.
O acesso a serviços digitais também auxilia pessoas, em tempos de risco financeiro, pela facilidade em arrecadar dinheiro entre amigos e familiares. Usuários que não têm acesso a esses serviços, tiveram uma diminuição no consumo de alimentos e outros itens entre 7 a 10%, enquanto os demais continuaram no mesmo nível de gastos.
Meios de pagamento não são uma ferramenta de inclusão financeira apenas pelo acesso a produtos e auxílio entre pessoas. Globalmente, órgãos governamentais se relacionam financeiramente com cerca de 25% dos adultos. Subsídios, seguro-desemprego e pagamento de despesas médicas ou educacionais são ferramentas utilizadas pelos governos para melhoria na qualidade de vida da população. Ter acesso aos que necessitam dessas ferramentas é essencial para viabilizar programas de inclusão governamentais. Por outro lado, a melhoria da rastreabilidade que a utilização de meios de pagamento traz na utilização desses recursos, permite mais eficácia desses programas, já que a utilização dos recursos e os desvios de finalidade podem ser identificados e corrigidos.
Governos têm flexibilizado a legislação para que mais agentes ofereçam serviços de guarda de dinheiro e pagamentos, sem os rigores de instituições financeiras. Porém, o acesso à população que reside em áreas remotas, ou têm poucos recursos, não justifica o investimento por parte desses agentes em divulgar ou incentivar o uso de suas soluções. Isso porque a maioria necessita de infraestrutura para operar, quer seja acesso à internet ou postos de atendimento, como agências bancárias ou correspondentes; tais como os Correios ou lojas de varejo, para depósito ou retirada de dinheiro físico recebido ou para uso em locais que não operam com pagamentos digitais.
É fundamental que pessoas tenham acesso a instrumentos para relacionamento financeiro.
Olhando as estatísticas, nossa missão deixa de ser “apenas” construir meios de pagamento e instrumentos financeiros para uso massivo e que tragam vantagens para nossos parceiros e seus clientes, passa a ser também encontrar uma maneira de auxiliar na inclusão dos que não são “atraentes” ao sistema financeiro tradicional, preencher as lacunas prestando serviços onde quer que eles sejam necessários.
Nossa maior aliada, além de nossa determinação, é a tecnologia.
A alteração do ambiente financeiro nesses últimos 5 anos é evidente. Empresas de tecnologia, hoje, são protagonistas em um mercado tradicional e altamente regulado. Barreiras estão sendo derrubadas por pequenas empresas que se propõem a atender melhor e com mais abrangência.
O mercado está mudando. Cabe a nós a obrigação de fazê-lo mudar para melhor.